data-filename="retriever" style="width: 100%;">E passamos dos 600 mil mortos. Perderam-se duas Santa Maria. Isso sem considerar as prováveis subno tificações, como demonstrou possível, às escâncaras, a CPÌ do Senado Federal, instaurada para apurar responsabilidades pela má condução dos processos político-administrativos de combate à da pandemia pelas maiores autoridades da República.
Dirão os ruminantes conformados e os negacionistas de plantão que 600 mil vidas são apenas 600 mil vidas de gente que, de um ou outro modo, deveria morrer mais cedo ou mais tarde. E que o hidróxido de cloroquina, a invermectina - e sei lá quais medicamentos mais, com comprovação científica de absoluta inocuidade em relação à prevenção e tratamento do vírus da Covid-19, e com riscos de provocar severos danos colaterais - salvaram vidas.
E baterão pé e insistirão nas asneiras de sempre contrárias à ciência. E usarão a liberdade - esse valor sagrado e inegociável - para justificar as atrocidades que cometem, como se a liberdade individual pudesse, em qualquer hipótese, sobrepujar o interesse coletivo, consubstanciado na organização estatal que rege a vida socialmente organizada. E pouco importa que milhões de brasileiros chorem suas vítimas, muitas das quais sequer puderam ser veladas em cumprimento ao ritual universalmente aceito de despedida, de assimilação das perdas e modulação do sofrimento delas decorrente; pouco importa que filhos cresçam sem a presença dos pais, que a avós não seja oferecida oportunidade de brincarem com os netos e de a eles transmitirem suas experiências de vida.
Pouco importa que amigos se apartem uns dos outros sem chances de um abraço derradeiro. Pouco importa que se sepulte a possibilidade de realização do amor recém-descoberto e de construção entrelaçada de vidas que se energizam na troca e na cumplicidade nascida da benquerença.
Pouco importa, para essa gente, os imensos danos socioeconômicos sofridos pelo país em razão da incúria e do negacionismo obscurantista instalado no Palácio do Planalto. Este é um país dirigido por pessoas que negam a ciência, que misturam Estado com organizações religiosas, verdadeiras empresas, mais preocupadas com o recolhimento do dízimo do que com a salvação das almas dos fiéis; que cortam as já mirradas verbas destinadas às pesquisas científicas e que privatizariam, se pudessem, até o ar que respiramos, entregando-o de mão beijada ao capital apátrida e sem qualquer compromisso com as questões sociais.
A nossa riqueza e a renda que produzimos no país continuam mal distribuídas. E aumenta em níveis assustadores a pobreza e a miséria, que vulneram um quarto de nossa população. E a carga tributária, que grava basicamente o trabalho e o consumo, continua saqueando o bolso de quem menos pode. E, para coroar tudo isso, voltamos a ter índice inflacionário de dois dígitos. Mas há quem goste desse quadro e o aplauda. O consolo é que eles são cada vez menos numerosos.